quarta-feira, 26 de maio de 2010

Os 3 F's

Tive recentemente o prazer de passar duas semanas em Portugal. Ao contrário do que é costume apercebi-me de que não se trata do pais onde nada acontece, mas sim do pais onde nada parece mas acontece.

Primeiro foi o Benfica que foi campeão. Com direito aos habituais distúrbios de ordem publica, com pessoas a gritar histericamente, com bandeiras, gestos e grunhidos ameaçadores no meio da via publica, lançamento de petardos a fazer lembrar os melhores dias de um qualquer levantamento popular, carros a buzinar desenfreadamente, ao jeito do melhor condutor indiano e motoqueiros desesperados em conseguir o almejado rater – Aproveito aqui na condição de engenheiro Mecânico para clarificar que um rater é apenas combustível, que, ao não ser consumido na câmara de combustão, onde deve, entra em contacto com as condutas de escape quentes, detonando ai. Algo que apenas é motivo de orgulho se fizermos questão de demonstrar que ou o motor está desafinado ou temos a perícia suficiente para pôr aquilo a trabalhar mal, apesar de todos os esforços do fabricante. No mínimo é uma atitude muito pouco ecológica.

Depois foi o Papa. Fui brindado com uma total campanha de lavagem de cara a igreja católica, que deixou toda a gente convencida de que, afinal, o papa não come criancinhas e até é um tipo porreiro, apesar de usar sapatilhas vermelhas por debaixo da batina. Isto pelos 4 canais de televisão que se degladiaram para transmitir a melhor imagem possível do cortejo do sr. Papa e do papamovel, onde se faz deslocar, sentado mesmo por cima do eixo traseiro, o que vale uns pontos na minha caderneta, até porque o senhor já tem alguma idade para ir por ali aos saltos fechado dentro daquela geringonça. Outro ponto forte foi ouvir a multidão a gritar "viva o papa!" desalmadamente, algo que estou em crer nem o próprio Papa conseguia ouvir uma vez que estava a chegar de helicoptero (Seria o papacoptero? Deve ser, porque helipapa não soa bem e hepapaptero tem ar de animal extinto...)

A cereja no topo do bolo: O discurso do Sr. Professor na despedida do sr. Papa. Então não é que o Aníbal se lembra de evocar aquela palavra tão portuguesa, tão portuguesa, tão portuguesa, que até dizemos que só nós a temos – A Saudade. Pois é. Mas, Sr. Professor, saudade de quê? Dos tempos do Cavaquistão onde as pessoas se governavam como conseguiam com os dinheiros da CEE sem dar cavaco? Dos tempos em que eras um rapazola filho de boas famílias lá para os lados de Boliqueime? Saudade de Fátima? Do Futebol? Do Fado? De outros tempos, que também eram difíceis para muita gente?

Depois veio o Mourinho, que ganhou tudo com os italianos, um feito brilhante sem duvida, que só não deu mais que falar porque o Special One não estava obviamente para ai virado. E depois também há a selecção nacional que se encarrega de colmatar o vazio com mais uma operação comparável á visita do papa, apesar de ainda não terem ganho nada e sinceramente com o tempo todo que perdem com a comunicação social, não percebo como é que se preparam para alguma vez o fazer. No meio disto tudo (leia-se nos intervalos publicitários) ainda vende tudo e mais alguma coisa para distrair a populaça.

Futebol, Fátima, Futebol... Fado? Sim, já há uns anos para cá que cada vez se enraíza mais. O Fado dos governantes, o Fado da crise, o Fado da selecção, o Fado do Socras e agora o Fado do Coelho. No meio da mega campanha da comunicação social temos os 3 F's de volta. De uma forma tão subrepticia que faz lembrar a campanha que elegeu o Sr. Professor ha uns anos atrás. Ainda faltava um ano para as eleições, se bem me lembro, e já se falava na possibilidade do sr. Professor poder voltar como um qualquer S. Sebastião, saído do nevoeiro no seu cavalo branco pronto a salvar a populaça não se sabia muito bem como e munido de que armas. É isto Sr. Professor? É esta a solução final? Brindaste-nos com a tua presença mumificada estes anos todos para isto?

O mais alarmante no meio de toda esta falta de criatividade e imaginação é que a coisa resulta! Quase não se fala no aumento do IRC e do IVA. As escutas? Quais escutas? Ah, foram proibidas... Ninguém fala nos lucros da banca. E ninguém ousa sequer sugerir que a mais ou menos curto prazo as coisas em Portugal vão ficar ainda mais lixadas, com 3 F's maiúsculos.

A única esperança a curto prazo: Os PIIGS, dos quais fazemos parte, ficando com a parte do focinho mais precisamente. Enquanto a Europa não deixar cair os PIIGS, vamos conseguir ir cheirando qualquer coisa. Mas as coisas na velha Europa também começam a ficar porcas, com mais ou menos F's, e por isso, o melhor é cheirarmos qualquer coisa agradável rapidamente porque neste momento isto não cheira nada bem. Isto não é um apelo ao consumo de cocaína. É um apelo á seriedade, enquanto ainda há tempo, sff...

Entretanto meia dúzia de nós continuaremos a pagar esta farsa colorida em tons mais ou menos cinzentos. Acham que é este o nosso Fado? Até quando?

Outros dias virão,uns melhores, outros piores... :)


Pigs On The Wing por doxology26

Um comentário:

Ana disse...

E as coisas boas em Portugal nesses 15 dias? Hein?! Ai, ai, ai... assim não chegas lá :P

Concentração no positivo, remember? :)