terça-feira, 29 de março de 2011

O paquistanês perdido

Hoje bebi uma cerveja com um jovem paquistanês. Sentou-se ao pé de mim num bar de aeroporto e pediu uma lata de cerveja. Ao principio fiquei com a ideia de que se estava a preparar para beber uma jola as minhas custas, mas depois percebi rapidamente que não. Vestia-se como a maioria dos paquistaneses : Bone na cabeça, aquela farpela que se assemelha a um pijama de tamanho 4 números acima ao qual as bainhas foram arranjadas e sandalocha generosamente arejada.

Bebia uma lata de cerveja. O que não é muito comum e pagava sem regatear o preço nem complicar muito, o que também não é comum. Chegou a pedir um maço de tabaco num bar de aeroporto o que me deixou embasbacado, uma vez que custa o triplo do que vendido na loja da esquina. Fiquei curioso mas não muito. Acabou por me perguntar de onde era e fez aquele ar parvo de quem não sabia sequer que existia um pais chamado Portugal mas não se atreve a dizê-lo. No Paquistão, uma vez que não temos selecção de críquete ninguém sabe quem é o Cristiano Ronaldo, o que faz de Portugal um pais desconhecido.

Vim a saber que tinha sido deportado e não poderia mais regressar ao pais até ao fim dos seus dias. Parece que o patrocinador se tinha enganado e vendeu o mesmo patrocínio a 7 pessoas diferentes, com o mesmo nome ou algo parecido. Talvez tenham seguido a simples lógica de que lhes parecem ser todos iguais e logo devem ter também o mesmo nome. Não consegui perceber mais da historia, aparte do fulano não se querer ir embora e apesar dos seus incessantes pedidos foi parar ao aeroporto com um bilhete de ida.

Deixei-o lá a beber uma lata de cerveja e desejei-lhe sinceramente boa sorte.

Estes são os escravos actuais. Pelo menos os mais Óbvios, os outros acho que somos nós todos, mas isso é outra historia.

Vêm na esperança de amealhar uns dinheiritos para eles e para a família e pagam a um patrocinador a sua entrada num mundo melhor. Ficam sem passaporte e imediatamente com uma divida a pagar que resulta melhor se forem do sexo feminino e estiverem dispostos a prostituir-se. “É o preço que tenho de pagar” disse-me uma vez uma miúda com quem meti conversa num bar.

Alguns suicidam-se com vergonha quando percebem que não vão conseguir enviar dinheiro para casa e não sabem quando voltam. Outros, como este, são substituídos de imediato devido a erros administrativos. É mais fácil substituir a peça do que perceber o que falhou.

Deixam a família, mulher e filhos e muitos passam anos a fio sem a verem. Alguns acabam por ir de férias e ficar por lá. Outros aguentam a pancada e alguns até conseguem trazer a família. Ninguém sabe quantos ficam pelo caminho e quantos reconstroem a sua vida num pais estranho. Não há estatísticas. Aliás, isso não interessa. A maquina não para e alimenta-se dos sonhos das pessoas.

Cabe a nós não a alimentarmos. :)




Banning Eyre: There's one song on this album where you did not translate the lyrics. That's "Chet Boghassa."

Abdallah: Chet Boghassa means "the girls of Boghassa." Boghassa is a village in the desert. I wrote that song. It was during the rebellion. I tried to remember the women of Boghassa and to say that we would liberate that village, because at that time, the Malian troops were in Boghassa. "We will take it back." The song talks about that.