domingo, 5 de outubro de 2008

Eid

Acabou o Ramadão. Para comemorar fui almoçar a um restaurante com janelas para a rua. Nos primeiros dias a sombra persegue-me e hesito antes de comer ou beber agua em publico. Olho a volta e certifico-me de que há pessoas a fumar e de que os restaurantes estão abertos. Oiço musica na rua e apercebo-me de que é a primeira vez que tal acontece. Aparentemente a vida volta ao normal. Os restaurantes abrem portas durante o dia. Ha pessoas na rua, que comem bebem e fumam despreocupadamente. Estamos no Eid.

Os descontos de ramadão transforma-se em promoções do Eid e a primeira vista a cidade começa a ganhar alguma vida. A “Timeout” apresenta um modesto calendário de eventos, incluindo concertos e a habitual panoplia de DJ´s internacionalmente conhecidos na terra deles.

Após um mês começo a aperceber-me de que me afastei da realidade. Na rádio as noticias resumem-se ás ultimas coscas de hollywood e as ultimas glorias de bollywood. Os colunaveis mantêm a populaça entretida com os ultimos desenvolvimentos das suas vidas de sonho. Pelo meio e em honra da vasta população Indiana noticia-se o rebentamento de mais umas bombas na India. Para além disto o mundo resume-se as glorias de mais umas enormidades do emirado. Desta vez abre o Atlantis, um aquaparque com uma queda de umas dezenas de metros de uma piramide supostamente mesopotâmica para um lago com tubarões, através de um tubo, claro, porque isto de nadar com os bichinhos não era bom para o negócio. As coisas querem-se bonitinhas e de fácil consumo. É como subir uma montanha de elevador.

Ao mesmo tempo e no meio disto tudo, a rádio pede cautela com os banhos de praia, uma vez que algumas foram decretadas improprias para consumo na sequência de descargas ilegais de esgotos no mar. Aqui os esgotos vão para um tanque de onde são recolhidos por camiões cisterna. Acontece que o sistema municipal de tratamento de esgotos está saturado e os ditos camiões cisterna chegam a passar 18h em filas a perder de vista no acesso ao local de descarga. A miuda na rádio aconselha também que não se ferquente o local onde os ditos camiões fazem a cisterna, uma vez que os mesmos fazem corridas para o acesso ao local e, sabendo que a maioria dos condutores aqui são Indianos ou Paquistaneses, não é dificil de imaginar a coisa ou compreender as descargas no mar.

Fiquei também a saber que deixou de ser possivel a pessoas solteiras o alguer de moradias e as mesmas estão a ser despejadas das suas casas. As moradias são só para familias. Quem é solteiro que vá morar para um apartamento. Pelo menos sempre há mais pessoas e assim talvez dê o nó com alguma vizinha ou vizinho e depois já podem ir para uma moradia. Esta medida tem a ver com a partilha excessiva deste tipo de habitação por residentes. Não compreendo muito bem a coisa, porque se 40 pessoas partilham uma moradia a unica razão que considero plausivel para não partilharem um apartamente é a possibilidade de fisicamente tal não ser possivel.Vem-me sempre a ideia aquela coisa das 47 pessoas dentro de um mini. Mas isso não é problema. Aqui há fiscalização e os tipos encarregam-se de ir á casinha e ver quem é que lá mora, afinal de contas os emirados são um pais livre. O conceito de liberdade é que é subjectivo.

O Dubai é um sitio agradável, apesar do clima agreste. Há uma multiculturalidade interessantissima e mais uma vez reconheço que tenho admiração pelo que os governantes desta terra fizeram dela. Embora a direcção seguida não faça muito o meu genero, construiram qualquer coisa. Melhoraram o bem estar da população, e tudo isto no meio do deserto. Claro que há dinheiro para o fazer, mas vai lá dizer isso ao José Eduardo. Tomaram a opção de distribuir a riqueza e tornar a coisa sustentável, embora a sustentabilidade seja algo discutivel. A verdade é que os Emirados tornaram-se em poucos anos uma potencia na zona. Vive-se confortavelmente e há segurança na rua. Aqui deixa-se o BMW aberto e a trabalhar no meio da rua enquanto se vai a casa buscar algo que ficou esquecido e, surpresa das surpresas, ainda lá está quando se volta. Deixa-se o portátil no carro o dia todo, a carteira, o que quer que seja e ninguem parte um vidro. Na verdade pode até deixar-se o carro destrancado. Algo a que eu ainda não me consegui habituar.

Estou aqui há um mês. Sinto falta de uma esplanada onde possa beber um copo na rua. De ver um filme que não seja uma palhaçada americanada. De um qualquer evento que não seja num centro comercial ou numa discoteca. De não ver a página de site bloqueado dos EAU cada vez que me esqueço e abro o flickr. De um bar que não pare de servir bebidas ás 2h30m... enfim, de uma série de coisas que não existem aqui, mas que penso tornariam esta terra muito mais agradável para quem aqui passa algum tempo. Penso que existem condições para o fazer e espero que mais ou menos rapidamente isso aconteça. Tenho no entanto a impressão de que já não será no tempo que aqui passarei. A luta contra o tédio continua.

Eid Mubarak! :)

domingo, 14 de setembro de 2008

O Ramadão

OK. Cheguei ao Dubai no Ramadão... Altura do ano em que os muçulmanos cumprem um jejum de sol a sol e, neste emirado, tentam fazer com que todos os outros o saibam. Não se pode comer em publico, beber, fumar, mascar pastilha elástica, cantar e, se forem as compras, são aconselhados a transportar os bens alimentícios num saco não transparente. Imagino o terrível ataque do jejuante esfomeado que, não se conseguindo controlar, devora alarvemente a comidinha recém comprada a nossa frente depois de ter surrupiado violentamente o saquinho de supermercado. Entretanto, no meio disto tudo põe-se biombos nos restaurantes dos hotéis a hora do almocito e abrem-se especialmente salas nas empresas aos fumadores e para as refeições. Tem-se o cuidado de tapar as janelas, não vá um qualquer polícia zeloso topar o tipo a fumar uma beata no 14º andar.

A População é na sua maioria Indiana, Filipina ou Paquistanesa, e é de salientar o esforço que esta gente faz para respeitar a tradição dos cerca de 10% de locais que aqui habitam. Mais, considerando que boa parte desta gente trabalha na construção civil e que durante o dia estão cerca de 45ºC, á sombra, é de salientar a não existência de acidentes de trabalho devido a não ingestão de líquidos durante o período do mesmo. Ah bom, a segurança acima de tudo! Por causa disso pára tudo as 14h as pessoas recolhem aos seus aposentos donde saem finalmente ao pôr-do-sol para se enfardarem nos vários restaurantes que abrem por essa hora. As lojas abrem também e oferecem promoções de Ramadão, do tipo “faca jejum no seu carro novo”, ou, “leve a sua família esfomeada a jantar no carro novo”. Há programação especial na televisão para distrair os jejuantes da fome com os últimos êxitos de Hollywood, numa lógica de que enquanto se vê a múmia não se da pela fomeca.

Estou talvez a ser mauzinho, mas quando considero que o Islão é uma religião que, como muitas outras, apela a tolerância não consigo deixar de ficar irritado com este tipo de coisas. Se as pessoas querem jejuar. Óptimo. Que o façam. Nada contra. Muito pelo contrario. Impor a vontade de cerca 10% da população sobre o restante e que me deixa um bocado mal disposto. Seja lá onde for. Mas também não é propriamente nada de novo.

Faço o meu apelo ao Sheikh Al Maktum que é um tipo moderno e como tal lê avidamente estas linhas, ou pede a alguém que as leia por ele, se esforce um bocadinho de forma a separar essas duas coisas distintas que são a religião e o estado. Simples e relativamente eficaz, embora não muito fácil, mas recomenda-se. Ah, e já agora com 45ºC á sombra sabia mesmo bem beber uma bojeca, de vez em quando, numa qualquer esplanada á beira-mar, em vez de ter de ir a um bar de hotel ou centro comercial. Tenho a certeza que o emirado, que considero um sítio até bastante agradável o seria muito mais. Para além disso marcava pontos de modernidade nos emirados e reinos todos vizinhos. “Ah, vocês têm GP de F1… Nós temos bojecas!”. E eu que acho que o Sheikh até tem vindo a desenvolver um bom trabalho… Seria a cereja no topo…

O Ramadão e uma época festiva, embora confesse que ainda não tenha muito bem dado com a festa, é uma época de reflexão, e de benevolência. Para alem disso dizem-me que e uma boa altura para quem trabalha aqui gozar ferias. E as ferias são sempre boas.

P.S. Afinal o GP de F1 é no Bahrein, ao contrário do que pensava, apercebi-me disso quando descobri que não dava F1 na televisão…demorei uns dias…

Não sei se existe a palavra “jesuante” mas agrada-me a sonoridade…

Os Imãs aqui não cantam grande coisa, deviam ir fazer um estagio á Turquia porque os tipos de lá são muito melhores… :)

Ramadan Mubarak.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Dubai

Pois é... vou ser exportado. Destino: Dubai.

Dubai, Emirados Arabes Unidos. O governante é um tipo moderno. O Sheik Al-Maktum consegue que um terço das gruas do mundo estejam no seu pais. O Edificio mais alto do mundo é também no Dubai, já para não falar na parafernalia de ilhas artificiais pelas quais o pais é conhecido.
O Dubai tem GP de Formula 1 a contrastar com a Sharia que garante o direito a deportação no caso de uma denuncia de um homem e uma mulher sem relação aparente num local fechado, que pode ser um carro por exemplo. Sim, dar boleia neste pais a alguém do sexo oposto dá direito ao regresso a casa. Felizmente fecham os olhos a elevadores e postos de trabalho. Não se pode dizer que sejam intransigentes os senhores.

As temperaturas nunca sobem acima dos 50 graus oficialmente, o que me tranquiliza bastante. Isto á sombra claro, onde são colocados os termometros.

Eu até gosto de viajar, mas decididamente o Dubai não é um dos meus destinos de eleição. De qualquer forma cá vou eu para a "cidade poeirenta", como é conhecida. Até lá restam-me uns dias neste pais á beira mar plantado onde as pessoas desejam ser felizes e viver em paz, nas palavras de uma rapariguita de etnia cigana no rescaldo de cenas dignas do faroeste Americano. Um dos lados positivos da coisa é que vou deixar de lado parte das noticias ridiculas que fazem o quotidiano deste pais. Parto para um pais Arabe que faz fronteira com o Irão. Talvez sirva para redimir a minha miserável opinião do povo Arabe, desenvolvida no decorrer de umas férias na Tunisia. Espero sinceramente que sim, até porque a distância é grande...

Venham as shishas, o chá forte e as percussões maravilhosas numa qualquer esplanada á beira mar! :)

quarta-feira, 25 de junho de 2008

"Hanubama"

Grupo de indianos pede vitória de Obama ao deus hindu dos macacos
Escrito por : Cfr. no fim da pág
24-Jun-2008

Um grupo de doze sacerdotes realizou, nesta terça-feira, uma cerimônia de oferenda a Hanuman, o deus hindu dos macacos pedindo para que o provável candidato democrata Barack Obama ganhe as eleições gerais norte-americanas, em 4 de novembro.

A cerimônia, em volta de uma fogueira sagrada, foi acompanhada por dezenas de indianos, no Templo de Hanuman. Muitos disseram acreditar que a vitória de Obama traria uma mudança positiva parta o mundo.

"Da terra de Gandhi, nós reunimos nossos melhores desejos para que o senhor Obama ganhe as próximas eleições norte-americanas", disse Brij Mohan Bhama, comerciante local que organizou o evento.

Bhama disse que a vitória do democrata nos Estados Unidos seria bom para a Índia e para o resto do mundo "porque ele defende mudança" e ajudaria a evitar a subida dos preços, o aumento da pobreza e o terrorismo.

O comerciante disse ainda que ele teve a idéia para o evento depois de ler reportagens na imprensa indiana que entre os muitos amuletos da sorte de Obama está uma réplica de Hanuman.

Hanuman é um dos deuses mais populares para os hindus e seus devotos descrevem-no como símbolo de grande força e valor.

O feito mais famoso de Hanuman, como descreve o Ramayana, épico hindu, foi liderar um exército de macacos para lutar contra o demônio Ravana e resgatar a princesa seqüestrada.

Bhama disse ainda que planeja enviar a Obama uma estátua de 60 centímetros e 15 quilos de Hanuman, que foi banhada em ouro.

O comerciante não participa de nenhum grupo político no país, mas Carolyn Sauvage-Mar, presidente do grupo norte-americano Democratas na Índia foi à cerimônia.

Carolyn representará norte-americanos que vivem no exterior na Convenção Democrata Nacional, em Denver, quando Obama for oficializado como candidato às eleições.

"Eu definitivamente levarei seus melhores desejos comigo", disse. Já quanto à estátua, será mais difícil. A lei federal norte-americana proíbe que os senadores aceitem presentes que custem mais de US$ 10.

Mas Bhama disse estar certo que a imagem chegará a Obama. "É sabido que representantes de Obama ajudarão na tarefa", disse, sem dar maiores detalhes.

da Associated Press, em Nova Déli

http://www.angolaxyami.com/Mundo/Grupo-de-indianos-pede-vitoria-de-Obama-ao-deus-hindu-dos-macacos.html

Carta a Isabel dos Santos

Isabelinha, Escrevo-te porque sei que lês atentamente as minhas palavras, juntamente com os muitos milhares de teus conterrâneos Angolanos que têm acesso a um computador pessoal e internet.

Chamaste a minha atenção numa noticia da Sabado, onde apareces ainda jovem com um casaco vermelho e um encanto muito próprio de uma ingénua militante de esquerda. Fiquei maravilhado. Temos a mesma idade o optamos os dois pela Engenharia. Tenho a certeza de que unindo o teu jeito para os negócios com a minha propensão para o lazer poderiamos ser muito felizes. Sei que não gostas de ser fotografada, o que explica a dificuldade de ver qualquer outra imagem que não a referida. Compreendo perfeitamente que seres filha do José Eduardo te torna bastante popular, mesmo não sendo pelas melhores razões e que isso não te agrada. Confesso-te que também não vou muito á bola com o teu pai, mas és tu que me interessas.

Eu sei que tens os negócios dos diamantes e das telecomunicações, o petroleo e sabe-se lá o que mais. Uma canseira imagino. Ainda por cima num pais que lidera os rankings da corrupção como Angola, deve ser uma grande chatice. Para além disso és casada com um Congolês milionário qualquer, com negócios obscuros no seu passado. De certeza não pode ser muito boa pessoa. Olha, podiamos ir para um recanto qualquer que não em Africa onde te arriscas a ser raptada, assassinada e sabe-se lá o que mais. Conheço uns sitios porreiros no Sudoeste Asiático.
Já estou a ver-nos numa qualquer praia deserta. Tu atarefada com os teus negócios e eu alegremente entregue ao ócio, lendo um livro, num intervalo entre dois mergulhos.

Tenho lido alguma coisa sobre Angola e também tenho ouvido dizer que é onde se ganha dinheiro. No entanto também tenho ouvido dizer que a população vive miserávelmente enquanto as pessoas do partido vão alegremente fazendo a sua vidinha. Parece-me que não ha grande vontade em mudar a situação. Tenho a certeza de que não estás de acordo com estas coisas e que desejas profundamente mudar de vida. Até porque sabes que isso não é sustentável e mais cedo ou mais tarde acabará. E normalmente estas coisas não acabam da melhor maneira.

Pensa nisso Isabelinha. E enquanto pensas, manda-me uns diamantezitos desses maiorzitos que tenhas ai e que não te fazem falta nenhuma, que a mim dávam-me um jeitaço. :)

http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/files/o_rosto_de_angola.pdf


The Revolution Will Not Be Televised
Carregado por mallox. - Videos de musica, clipes, entrevista das artistas, shows e muito mais.

sábado, 21 de junho de 2008

O Verão

Chegou o Verão. A altura do ano escolhida, entre outros, pelos nossos amigos alados, os pássaros, para o desenvolvimento da sua descendência. Há um cheiro a alegria e jovialidade no ar. O calor aperta. Os dias são grandes e bonitos e a vida é um tanto ou quanto mais alegre. Para trás parecem ficar os dramas do Inverno e da Primavera. Chegam as férias.

A Semana passada a selecção nacional perdeu. Acabou a onda de patriotismo sazonal habitual neste tipo de coisas e o pais voltou á sua normalidade. Para alguma surpresa minha ninguém cortou nenhuma estrada e as coisas andam numa calma aparente. Os preços dos combustiveis continuam altos, embora tenham parado de subir, e a classe dirigente europeia mostra-se preocupada com o assunto. O que pode significar que não vão continuar a aumentar da mesma forma. Lá se vão as imagens de pilhagens e outras coisas tais na velha Europa...

Cá, tudo na mesma... Nada digno de menção excepto talvez que a Europa continua a andar ás voltas com o "Não" Irlandês. Devo admitir que a ideia de um novo referendo era excelente... Sim, e se disserem "não", outra vez, faz-se outro, e outro... até os desgraçados votarem "Sim"!!!! ou então...

Pelo mundo também nada de novo... O Mugabe continua a lembrar-nos de que as democracias vêm em vários sabores, um deles o Africano. O Irão continua orgulhoso do seu programa nuclear e o Obama e McCain fazem as delicias dos jornalistas e analistas politicos - Não sei se já estão no Betandwin por esta altura.

Chega o Verão, Chegam as férias, a praia, a imperial e o tremoço. Chegam os festivais de musica. Que se lixem os problemas. Se fôr preciso pede-se um empréstimo para ir de férias. Se não, que se lixe. Vamos todos os dias para a Costa da Caparica e desde que não fiquemos sem combustivel no engarrafamento da 25 de Abril está tudo bem. Viva a Imperial, Viva o tremoço, Viva o Verão. :)

domingo, 15 de junho de 2008

A Revolução Camionista

Hoje, O Presidente da Republica, Cavaco Silva anunciou: "Congratulo-me pelo facto de a ordem pública e a legalidade terem voltado ao nosso país. Isso é o mais Importante. Fico satisfeito pelos portugueses puderem novamente viver o seu dia-a-dia com alguma tranquilidade". Sim, cá estamos nós de volta á normalidade, ao pais onde não acontece nada,satisfeitos da vida e preocupados com coisas tão importantes como onde é que vamos ver o jogo da selecção, beber umas minis e se podemos ver a namorada nova do Cristiano Ronaldo sem t-shirt numa sitio qualquer.

No entanto, na semana passada, um grupo de psudo-camionistas, manifestantes, revoltosos, bandidos, arruaceiros ou terroristas, depende da optica com que quiser ver a coisa, paralisou parte do pais com cortes e bloqueios de estradas. Os negócios Pararam, os bens de consumo começaram a escassear e as pessoas ficaram sem o gasoleo que os carros alemães tanto gostam. Quanto é que isto custou ao pais? Não se sabe. Infelizmente ainda não conseguimos aprender a quantificar as coisas em dinheiro, como fazem tão bem os Americanos. Um dia lá chegaremos...

Num Belo dia, a seguir ao Jogo do Euro, para grande espanto geral, a populaça apercebe-se de que os combustiveis estão a escassear. Isto, apesar do bloqueio ter sido anunciado com bastante antecedencia - mas o que é que isso interessa quando podemos ver uma entrevista com o cozinheiro da selecção e da senhora que lava as cuecas do "mister"...
As bombas da Galp enchem-se de carros. Ha filas intermináveis para abastecer. Os tipos que andavam a dizer que boicotavam a Galp e Repsol deixam de se importar com o preço que pagam pela essencia mágica, desde que o carrito continue a andar. E, no meio disto tudo, surpresa das surpresas, ha uma onda de simpatia para com os tipos que andam todos contentes com os seus coletes reflectores a parar o pais e a ameaçar os colegas em frente ás camaras de televisão.

A Populaça diz que está certo, que temos de lutar, que as coisas estão dificeis, os emprestimos bancários, o preço dos combustiveis. E de facto as coisas não são fáceis. Ninguém disse que eram. O que ninguém pode estar á espera é de viver dentro de uma caixinha chamada Portugal, á espera de que o governo resolva todos os seus problemas, perfeitamente alheio ao que se passa no resto do mundo. E na semana passada tive a desconfortável visão de que grande parte da nossa população é assim que vive. Alheia ao resto do Mundo, dentro de uma caixinha, que já teve antena mas agora também tem cabo, onde só vê o que lhe mostram, que acredita que o Governo serve, por um lado, para resolver todo e qualquer um dos seus problemas, e por outro, para justificar os mesmos.

Ninguém foi preso, ou mesmo acusado seja do que fôr. Não houve "Porrada nos gajos - vai tudo de cana!", a minha primeira reacção natural, confesso. De facto não aconteceu nada. O Governo Cedeu, Morreu um tipo e hoje joga a selecção.

Ontem á tarde na Mata do Fontelo os pseudo-camionistas revoltosos organizaram um convivio onde comeram porco no espeto e beberam uns copos, a fazer lembrar aquelas patuscadas na floresta dos filmes do "Robin dos Bosques". Dizem que o Balanço é positivo e sentem-se com mais força. Com mais força sente-se também qualquer tipo de associação que possa parar seja o que fôr em nome de uma qualquer revindicação. "Estamos chateados, isto não anda a correr bem... vamos cortar uma estrada!"

A populaça, essa deu sinais de ir atrás seja do que fôr, como bons carneirinhos, guiados de forma perfeitamente irresponsável por essa coisa a que chamamos comunicação social. Desconhece a diferença entre uma greve e um corte de estradas. O Zé disse que sentiu o estado fraco - pois é Zé eu também senti... - e a oposição escondeu-se e está agora á espera de mais qualquer coisa, que não sabe o que é, como qualquer coelho assustado escondido na cartola.

O fenómeno repete-se pelo resto da Europa e sinto-me apreensivo pelo futuro.Os preços dos combustiveis deverão continuar a subir e levam todos os restantes atrás. A ser assim o fenómeno vai intensificar-se. Quase que posso imaginar algo parecido com o 25 Abril, mas agora em vez de ser com militares é com camionistas. "A revolução dos camionistas" - ficava bem em qualquer livro de história. Podiam pôr um malmequer na buzina...Pelo menos era diferente... e neste momento poderia espalhar-se a vários paises, o que seria uma estreia. Aquela canção "Sou camionista, sou o maior..." poderia ser o hino...

Talvez alguém se lembre de que uma Europa "socialmente conturbada" não é bom para o negócio de ninguém, não augura nada de bom, e os preços de facto baixem... ou pelo menos parem de aumentar... Ah bom... demagogia...

Adivinham-se tempos conturbados para a Europa... Cá estaremos para ver... :)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O Homem do Leme

Estava eu a preparar-me para almoçar alarvemente quando uma noticia na TV me despertou a atenção. Anibal Cavaco Silva vai pilotar amanhã, que é 10 de Junho, o Gil Eanes. Sim era ele - O homem do leme. Desta vez com um verdadeiro leme nas mãos, aos comandos de um navio.
Imaginei que tipo de emoções passam por aquela criatura. O Anibal, com o leme nas mãos e aquele sorriso de animal embalsamado que apenas ele consegue fazer, defronte de um batalhão de fotografos que disparam incessantemente na vã esperança de captar qualquer tipo de emoção no seu rosto.

Imaginei o Anibal a entrar no Tejo, vindo de Algés e a olhar na direcção dos Jerónimos para admirar o Centro Cultural de Belém, o monumento emblemático do Cavaquismo, antes de finalmente avistar os Jerónimos que surgem agora por detrás do CCB. Imaginei que nessa altura alguem o afastava e lhe tirava o leme das mãos e dizendo "Pronto, pronto..Já chega..." ao que ele responderia com um cavernoso "Obrigado..." digno de um qualquer filme de múmias que se preze.

Lembrei-me dos tempos aureos do Cavaquismo, quando a malta arranjava um dinheirito para os copos inscrevendo-se num curso qualquer em que só era preciso lá ir de vez em quando para assinar as folhas. Quando o Paulo Portas ainda era só o Director do Independente, que era um jornal interessante. Quando de repente havia dinheiro aos magotes vindo da CEE e não era importante o seu uso. Só era importante é que viesse e viesse para o nosso bolso. Havia Dinheiro e havia empregos. Fez-se a Expo 98, deitando abaixo a parte ribeirinha Ocidental de Lisboa com todo o seu surrealismo. Plantavam-se girassois. Compravam-se bons carros para as estradas que entretanto se construiam. Enfim, tempos aureos em que o Pais teve a oportunidade do século para se modernizar e construir algo para os tempos vindouros e fez aquela coisa tão Portuguesa que foi encher os bolsos o mais depressa possivel.

Esses tempos trazem-me á memória aquela história de que não devemos dar peixe a um tipo com fome mas sim ensiná-lo a pescar. Nós recebiamos o dinheiro para as canas, para as boias, os anzóis, a minhoca, tudo material topo de gama, e depois iamos comer o peixe ao restaurante. Enquanto havia dinheiro lá iamos comendo o peixito, em conforto e de forma despreocupada, depois quem viesse a seguir que se lixasse, porque o peixito, na barriga, esse já cá canta.

O Homem de Boliqueime deixou boa impressão. Havia dinheiro, havia empregos, até na função publica havia empregos com fartura. O resto não é importante. Após, na minha opinião, a mais brilhante operação eleitoral de todos os tempos- Sim, não nos esqueçamos de que quando ainda faltava 1 ano para as eleições já havia noticias nos jornais sobre o eventual regresso do Prof. Silva, como se de um qualquer salvador dos aflitos se tratasse e até a sra. Silva começou a aparecer nas revistas côr de rosa.- O Homem foi eleito Presidente da Republica Portuguesa. Há coisas fantásticas não há?

Enfim, nem tudo foi mau... ficaram as estradas, a zona da expo a abarrotar de prédios, estradas, o CCB, estradas, a Manuela Ferreira Leite, as estradas e algum saudosismo, que é uma coisa muito Portuguesa. :)

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Esperança

Em Fukuoka, no Japão, um homem descobre através de câmaras de segurança que mandou instalar, perturbado pelo desaparecimento misterioso de alguma comida do seu frigorífico, que uma senhora coabitava o seu apartamento utilizando o roupeiro como esconderijo. Têm sensivelmente a mesma idade, cerca de 50 e tais. Um bom enredo para uma história de amor. Como raio a senhora fazia cada vez que o seu senhorio ia ao roupeiro é algo que me confunde - fazia de conta que era um cabide ou escondia-se antes no frigorífico ?
http://news.bbc.co.uk/2/hi/asia-pacific/7426950.stm

Na Brasil, perto da fronteira com o peru, um avião capta fotografias de indígenas de uma tribo incontactável, que apontam ameaçadoramente os seus arcos com flechas, hipotéticamente envenenadas, ao diabólico engenho alado. Vivem-se momentos excitantes lá na aldeia. O ser humano sempre teve uma imaginação fértil para explicar fenómenos que não compreendia. O Xamã local deve andar muito atarefado...
Em Inglaterra, uma senhora usa a sua experiência de 20 anos para nos explicar que os dois fulanos pintados de vermelho e com arcos, são homens e que uma terceira pessoa, pintada de preto, é possivelmente uma mulher, embora não tenha a certeza, mas assim o imagine, porque não traz consigo nenhum arco... bom, ou isso ou os tipos são fãs do Benfica, estão zangados com a performance do seu clube do coração e o terceiro pintou-se mesmo de preto em sinal de luto... vivem na floresta, escondidos de tudo e todos, porque têm vergonha. Na semana que vem vão de lá sair para ir á tasca do João ver o Europeu, enquanto bebem umas imperiais e comem uns tremoços.
A Senhora explica-nos também que as casas que se vêm são onde eles habitam e cozinham. Perspicaz a senhora. eu que pensava que eram galinheiros e que eles dormiam ao relento porque não gostavam de dormir com as galinhas.
Segundo ainda a senhora, a vegetação é densa em volta das casas para que a tribo se possa esconder. Disso discordo plenamente. Penso que isso apenas quer dizer que na dita tribo não há ninguém com um gosto especial pela jardinagem...Mas o que sei eu... não sou nenhum especialista...
http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/7427417.stm

Na Índia a comunidade Gujjar gera confusão ao manifestar-se contra o facto de ser classificada como OBC - Other Backward classes - Outra Classe Retrograda. A comunidade deseja ser classificada abaixo do nível "retrogrado" porque isso lhes dá direito a empregos no estado. Uma outra leitura dos "Jobs for the Boys", tão popular na União Indiana."Jobs for the worst than backward" neste caso. Bom, falamos da India, pelo que não ha nada de verdadeiramente estranho nestas noticias.
http://news.bbc.co.uk/2/hi/south_asia/7424924.stm

Na Ilha de Java, Indonésia uma Câmara filma dois raros rinocerontes, que se alimentam pacatamente. No fim da filmagem, um dos animais irrompe em fúria e destroi a camâra. Os animaizinhos vivem felizes lá no meio do mato e já não basta terem de andar a fugir aos caçadores furtivos ainda têm de aturar mirones com câmaras escondidas. Não querem ter nada a ver com a nossa espécie, muito menos com os problemas de serem uma celebridade. Não lhes podemos levar verdadeiramente a mal por isso. Agora são famosos e não podem fazer nada sobre o assunto, não fazem parte do mundo do espectáculo e nem sequer ganham direitos de autor. A única coisa que podem fazer é ir ás trombas de qualquer mirone que por lá apareça. Sou solidário.
http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/7424918.stm

Portugal, Dezenas de repórteres acompanham diariamente a selecção nacional, para gáudio da populaça, viajam mesmo á Indonésia para entrevistar um miúdo que teve a sorte, ou o azar, de ser uma vez filmado com uma camisola da selecção das quinas. A populaça vem aos magotes para ver uns tipos que jogam á bola. Enquanto isso, a Galp anuncia que baixa um cêntimo nos preços dos combustíveis e a Manuela Ferreira Leite consegue, surpreendentemente, sorrir cada vez mais. Nesse mesmo dia foram queimadas 3 toneladas de Haxixe na Lipor da Maia. Coincidências...
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1330699&idCanal=59

De uma forma ou outra a Diversidade persiste. Obrigado. :)

quinta-feira, 29 de maio de 2008

A Crise

Segundo o Wikipedia a Crise é um conceito utilizado na sociologia, na política, na economia, na medicina, na psicopatologia, entre outras ciências. A Crise é portanto um conceito meio abstrato usado para tudo e mais alguma coisa. A Crise tem uma conotação negativa, embora o seu significado seja o de algo que implica apenas um estado de mudança.

A Palavra Crise faz as delicias jornalisticas e consegue imprimir na populaça um sentimento de receio ao mesmo tempo que proporciona uma explicação simples para tudo e mais alguma coisa- "Ah... é a crise..." - A Crise da meia idade, a económica, do PSD, dos combustiveis, dos preços dos cereais, da floribela, das alterações climáticas, enfim, consegue talvez por si só justificar o aumento do consumo de antidepressivos.

As crises estão ai, na TV e espalhadas pelos cabeçalhos dos jornais e revistas. È só escolher a nossa preferida. Poderiamos mesmo arranjar um "Top Crise" semanal com as crises que mais vendem. A crise vende, a populaça compra e a coisa ganha corpo, como um qualquer godzilla imaginário que se alimenta dos receios da humanidade antes de se erguer dos oceanos pronto a espezinhar aqueles que lhe deram vida.

A verdade é que o mundo gira em constante mudança, o que não é novidade nenhuma - "Nada é permanente, tudo é efémero", como dizem pragmáticamente os budistas de ha uns milénios para cá. Então porque carga de agua existe esta necessidade permanente de arranjar novas formas recear qualquer coisa que ainda não se sabe muito bem o quê?

Será que humanidade tem a necessidade inconsciente de recear qualquer coisa, os jornais têm a necessidade consciente de vender qualquer coisa e qualquer crisesita que se preze não passa sem alguns interesses económicos por detrás? - Talvez... ou talvez não... Uma coisa é certa, a crise, seja lá qual ela fôr, está ai, nem que seja porque nós assim o desejamos.

"Crise? Não. Muito Obrigado." :)


Skeeter_Davis_-_The_end_of_the_world
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quarta-feira, 21 de maio de 2008

O Limão

O Limão... conhecido dos heroinomanos pelas suas propriedades mais ou menos desinfectantes e pela facilidade de obtenção na comunidade em que vivemos. O Limão é acessivel, banal, quase omnipresente e no entanto deixa um gostinho amargo na boca.

Temos as rodelas de limão no copinho de tequilla, os pinguinhos do dito na amendoa amarga, a limonada, o Martini, a pepsi... e no entanto trincar um limão cru é uma experiencia arrepiante, capaz de provocar reflexos descontrolados nos musculos faciais... algo para os mais aventureiros, sem duvida.

O Limão não tem lugar de destaque nos cartazes do supermercado, não tem estatuto de fruto tropical e não figura nas ementas, excepto quando acompanha algo mais... é util como complemento, apreciado e no entanto não valorizado, apesar das suas infindáveis propriedades terapeuticas. O limão é mesmo utilizado na como termo depreciativo em Inglês... a expressão "I got a lemon" não augura nada de bom, a não ser que sejamos heroinomanos desesperados.

Uma busca no Youtube, onde se pode encontrar quase tudo, revela-nos o Seguinte sobre o Limão:

Uma canção dos U2 chamada "lemon" onde claro está, este serve apenas para acompanhar a descrição de uma qualquer miuda gira, á falta de algo mais original, um pouco como aquele fado da Rosinha dos limões.

Uma peça pseudo-jornalistica das terras do tio Sam que acagaça aquela gente toda com os germes que uma rodela de limão transmite a um copo de agua ou a uma qualquer soft drink, feita de algo que provavelmente mata qualquer tipo de vida animal com menos de 1 kg.

Uma canção dos Fool's Garden chamada "Lemon Tree" onde a letra diz de forma desanimada "ontem disseste-me que eram ceus azuis e hoje só consigo ver um limoeiro..." - enfim... tipico..."lamechices"....

Como fazer uma bateria a partir de limões. Ora ai está algo util, quando se é o Macgiver, o carro não pega e a miuda que está conosco está desesperada, porque anda um bando de malfeitores a tentar apoderar-se da quinta, que herdou recentemente, para construir um megalomano empreendimento imobiliário.

Uma nova canção de um grupo de miudos chamados "capitão porco-espinho" que também são mesmo maus, não só depreciam o limão como o porco-espinho que é um animal engraçado...

Dezenas de videos de pais babados com criancinhas que ficam mesmo giras quando tentam comer uma rodela de limão pela primeira vez.

Enfim, encontra-se muita coisa, mas á excepção da bateria não se encontra propriamente nada que dignifique o limão. No entanto, o limão permanece indiferente a tudo isto, permanece sereno, não refila, e, apesar da sua aparente inconsequência,na maior parte das vezes, tem um ar feliz. Mesmo se vá acabar cortado ás rodelas ou espremido para uma qualquer limonada caseira.

:)


Fool's Garden - Lemon Tree por lucky33