domingo, 25 de julho de 2010

As revelações de Gingão – A Lula Gigante

Num recente sonho e após ter adormecido com uma noticia perturbadora sobre o futuro de Paul, o Polvo perito em futebol, que vê a sua existência como maior especialista em futebol conhecido no planeta ser ameaçada pelas mais diversas receitas culinárias para a confecção de moluscos, tive uma revelação extraordinária, apenas comparável as aparições de Fátima.

Na eminencia do desapontamento provocado pela guarda de um segredo mortal que afinal já toda a gente conhecia, com aconteceu com a irmã Lúcia e o terceiro segredo, deixo aqui as minhas revelações.

Fui assaltado por uma imagem na escuridão. Não era uma imagem qualquer, mas sim um molusco, que mais tarde identifiquei como uma lula. A imagem brilhava de forma intensa com uma panóplia de cores que jamais tinha presenciado. Dirigiu-se a mim, com uma luminosidade ofuscante e revelou-me que se tratava de uma lula gigante, que ela e a sua confraria habita as profundezas do oceano Indico e têm uma esperança de vida que ronda os 100 anos por cada tentáculo, apenas perecendo por aborrecimento “Um aborrecimento de morte”, como me explicou.

De seguida e em tom coloquial fez-me uma revelação fantástica: Somos controlados por uma confraria de lulas almiscaradas gigantes.

O seu líder, que dá pelo nome de “Gingão”, revelou-me que possuem poderes psíquicos e que é uma brincadeira de criança controlar os seres humanos. Revelou-me que o fazem porque a vida no mar torna-se muito aborrecida, especialmente a profundidades elevadas.

“Não se consegue ver a ponta de um corno e, mesmo que se visse, nada se compara a inconsequência do ser humano, e a sua fútil capacidade criativa que é uma fonte inesgotável de entretenimento.

Nunca outra criatura conseguiria criar tanta imbecilidade de forma tão inconsequente. Por outro lado ás vezes temos sorte e surge algo que nos surpreende, o que faz com que a coisa não seja assim tão aborrecida. Depois, por muita merda que façam lá em cima, nunca terão a capacidade de destruir as profundezas oceânicas, apesar de pensarem que sim (risos), pelo que nos sentimos muito seguros. Para além disso, se existir esse risco, temos meios para lidar com o problema de forma rápida, eficaz e sem muita chatice. Basta alterar um bocadinho o clima ou pôr uns vulcõezitos em erupção, que os tipos morrem aos magotes, embora não o percebam (risos), e temos mais entretenimento garantido.” Foram estas as suas palavras.“Gingão” fez então uma pausa, arrotou de forma exuberante, cuspiu uma cabeça de peixe nas profundezas oceânicas e mudou de côr.

Fiquei espantado com esta revelação. Afinal não era o Obama, o Barroso, o Bilderberg, os banqueiros judeus, ou mesmo uma entidade divina mas sim um cardume de moluscos na obscuridade das profundezas oceânicas que se diverte com o comportamento humano.

Quando ainda recuperava do choque, Gingão mudou de côr 3 vezes e desapareceu na escuridão das profundezas. Fiquei com a certeza de que voltaria novamente num futuro próximo para novas revelações.

Acordei sobressaltado e apressei-me a examinar cuidadosamente o maço de cigarros que ando a fumar. Não encontrei qualquer indicio de ilegalidade. Depois disso, deitei-me novamente e não me lembro com o que terei sonhado. :)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O Polvo

Nos últimos dias do Mundial presenciei estupefacto o polvo Paul como noticia de abertura de grande parte dos serviços noticiosos. A tentacular criatura acertou totalmente nos resultados dos jogos do mundial.

Lamento-me de não ter o vicio do jogo e não ser particularmente crente em poderes sobrenaturais de moluscos, caso contrário, tinha posto o meu dinheiro todo no polvo e tinha ganho uma pipa de massa com a qual poderia alimentar-me alegremente dessas e de outras iguarias, marinhas ou não. Na véspera da final, no entanto, uma duvida surgiu. Um periquito verde em Singapura discordava da sabedoria do molusco e apontava a Holanda como vencedora do Mundial. Talvez isso me tenha impedido de ir a correr colocar as minhas apostas. Fiquei confuso. Não sabia em quem acreditar, se no polvo ou no periquito.

Na verdade não percebo muito de futebol e na incapacidade de compreender os argumentos dos peritos não consegui depositar a minha confiança em nenhum deles. O periquito era engraçado, verde e pequenino, daqueles que têm o bico vermelho, mas depois, os polvos, sempre me fascinaram um bocado. Os chocos também. Se tivesse a opinião de um choco de certeza teria depositado as minhas esperanças e economias neste.

Não deixo de achar fascinante que um molusco, devido ao facto de adivinhar os resultados da bola, tenha mais tempo de antena que um qualquer dirigente politico com capacidade de condicionar seriamente as nossas vidas. De facto, após o Paul ter decidido o vencedor do mundial, várias pessoas apostaram as suas economias segundo a opinião do reputado molusco.

As perguntas assalta-me em catadupa. Se o José Sócrates acertasse nos resultados da bola, será que apostávamos nele? E se um partido de moluscos videntes futebolísticos se candidatasse a uma qualquer eleição, será que ganhava? E Se em vez do Carlos Queiroz tivéssemos apostado num molusco para treinar a selecção, teríamos ganho o campeonato? E o Mourinho, será que larga tinta? E as ameijoas, será que percebem da bolsa?

Nunca saberei a resposta de algumas destas perguntas, no entanto assisto a tudo isto com a certeza de que, entre hominídeos e moluscos, eu aposto nos moluscos. :)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Os 3 F's

Tive recentemente o prazer de passar duas semanas em Portugal. Ao contrário do que é costume apercebi-me de que não se trata do pais onde nada acontece, mas sim do pais onde nada parece mas acontece.

Primeiro foi o Benfica que foi campeão. Com direito aos habituais distúrbios de ordem publica, com pessoas a gritar histericamente, com bandeiras, gestos e grunhidos ameaçadores no meio da via publica, lançamento de petardos a fazer lembrar os melhores dias de um qualquer levantamento popular, carros a buzinar desenfreadamente, ao jeito do melhor condutor indiano e motoqueiros desesperados em conseguir o almejado rater – Aproveito aqui na condição de engenheiro Mecânico para clarificar que um rater é apenas combustível, que, ao não ser consumido na câmara de combustão, onde deve, entra em contacto com as condutas de escape quentes, detonando ai. Algo que apenas é motivo de orgulho se fizermos questão de demonstrar que ou o motor está desafinado ou temos a perícia suficiente para pôr aquilo a trabalhar mal, apesar de todos os esforços do fabricante. No mínimo é uma atitude muito pouco ecológica.

Depois foi o Papa. Fui brindado com uma total campanha de lavagem de cara a igreja católica, que deixou toda a gente convencida de que, afinal, o papa não come criancinhas e até é um tipo porreiro, apesar de usar sapatilhas vermelhas por debaixo da batina. Isto pelos 4 canais de televisão que se degladiaram para transmitir a melhor imagem possível do cortejo do sr. Papa e do papamovel, onde se faz deslocar, sentado mesmo por cima do eixo traseiro, o que vale uns pontos na minha caderneta, até porque o senhor já tem alguma idade para ir por ali aos saltos fechado dentro daquela geringonça. Outro ponto forte foi ouvir a multidão a gritar "viva o papa!" desalmadamente, algo que estou em crer nem o próprio Papa conseguia ouvir uma vez que estava a chegar de helicoptero (Seria o papacoptero? Deve ser, porque helipapa não soa bem e hepapaptero tem ar de animal extinto...)

A cereja no topo do bolo: O discurso do Sr. Professor na despedida do sr. Papa. Então não é que o Aníbal se lembra de evocar aquela palavra tão portuguesa, tão portuguesa, tão portuguesa, que até dizemos que só nós a temos – A Saudade. Pois é. Mas, Sr. Professor, saudade de quê? Dos tempos do Cavaquistão onde as pessoas se governavam como conseguiam com os dinheiros da CEE sem dar cavaco? Dos tempos em que eras um rapazola filho de boas famílias lá para os lados de Boliqueime? Saudade de Fátima? Do Futebol? Do Fado? De outros tempos, que também eram difíceis para muita gente?

Depois veio o Mourinho, que ganhou tudo com os italianos, um feito brilhante sem duvida, que só não deu mais que falar porque o Special One não estava obviamente para ai virado. E depois também há a selecção nacional que se encarrega de colmatar o vazio com mais uma operação comparável á visita do papa, apesar de ainda não terem ganho nada e sinceramente com o tempo todo que perdem com a comunicação social, não percebo como é que se preparam para alguma vez o fazer. No meio disto tudo (leia-se nos intervalos publicitários) ainda vende tudo e mais alguma coisa para distrair a populaça.

Futebol, Fátima, Futebol... Fado? Sim, já há uns anos para cá que cada vez se enraíza mais. O Fado dos governantes, o Fado da crise, o Fado da selecção, o Fado do Socras e agora o Fado do Coelho. No meio da mega campanha da comunicação social temos os 3 F's de volta. De uma forma tão subrepticia que faz lembrar a campanha que elegeu o Sr. Professor ha uns anos atrás. Ainda faltava um ano para as eleições, se bem me lembro, e já se falava na possibilidade do sr. Professor poder voltar como um qualquer S. Sebastião, saído do nevoeiro no seu cavalo branco pronto a salvar a populaça não se sabia muito bem como e munido de que armas. É isto Sr. Professor? É esta a solução final? Brindaste-nos com a tua presença mumificada estes anos todos para isto?

O mais alarmante no meio de toda esta falta de criatividade e imaginação é que a coisa resulta! Quase não se fala no aumento do IRC e do IVA. As escutas? Quais escutas? Ah, foram proibidas... Ninguém fala nos lucros da banca. E ninguém ousa sequer sugerir que a mais ou menos curto prazo as coisas em Portugal vão ficar ainda mais lixadas, com 3 F's maiúsculos.

A única esperança a curto prazo: Os PIIGS, dos quais fazemos parte, ficando com a parte do focinho mais precisamente. Enquanto a Europa não deixar cair os PIIGS, vamos conseguir ir cheirando qualquer coisa. Mas as coisas na velha Europa também começam a ficar porcas, com mais ou menos F's, e por isso, o melhor é cheirarmos qualquer coisa agradável rapidamente porque neste momento isto não cheira nada bem. Isto não é um apelo ao consumo de cocaína. É um apelo á seriedade, enquanto ainda há tempo, sff...

Entretanto meia dúzia de nós continuaremos a pagar esta farsa colorida em tons mais ou menos cinzentos. Acham que é este o nosso Fado? Até quando?

Outros dias virão,uns melhores, outros piores... :)


Pigs On The Wing por doxology26

sábado, 3 de abril de 2010

O Tótó para Tótós

Ao contrário do que possa parecer, muitos de nós somos Tótós. Uns mais, outros menos, uns de uma forma, outros de outra, uns declaradamente, outros sem se aperceberem do facto. A diversidade faz parte da riqueza de ser Tótó.

Ser Tótó não é fácil, há que reunir um conjunto de qualidades únicas que requerem dedicação e treino de forma a que não se percam, transformando o Tótó num outro género qualquer, como o de gajo Normal por exemplo.

Para ser Tótó é preciso, acima de tudo, uma boa dose de ingenuidade, o que não é uma qualidade fácil de preservar. O Tótó não vê a maldade nos outros e acredita no que lhe dizem. o que lhe traz muitos dissabores. Infelizmente, a perda desta qualidade pode ter consequências dramáticas para o Tótó, podendo este transformar-se em Espertalhão ou até em Perfeito Imbecil.

A sinceridade é outra das características do Tótó. O Tótó fala despreocupadamente por vezes sem se aperceber de que está a ser incomodo e inconveniente. Por vezes aborrece a audiência com assuntos que lhe agradam, sendo a perspicácia com que se apercebe da situação variável. No seu extremo, quando não tem a perspicácia suficiente para se calar, o sujeito degenera no género Melga. A perspicácia é assim outra das qualidades que tem de estar presente no Tótó. É importante para o Tótó saber quando parar de forma a preservar a sua condição.

Para o Tótó é importante saber fazer qualquer coisa bem ou conhecer bem algum tema. O que não é fácil. Tem de o verdadeiramente saber fazer, uma vez que é uma das coisas que o distingue do Artolas. Por outro lado conhecer um tema bem demais é uma das características dos Carolas, pelo que o conhecimento também não pode ser excessivo.

Ao Tótó um ultimo desafio é colocado. Tem de ser forçosamente diferente dos outros. Condição necessária para que seja reconhecido como Tótó. Este é o verdadeiro desafio do Tótó. Dependendo do meio onde se insere o Tótó tem a árdua tarefa de se demarcar do género Normal, o que requer no mínimo alguma criatividade, o que não está ao alcance de alguns seres humanos.

Ser completamente Tótó não é muito positivo. No entanto ser meio Tótó ou ás vezes ser Tótó é uma atitude positiva, significa que temos espaço e condições para evoluir ao contrário do tipo Normal, por exemplo, que se limita a ser como os outros e dificilmente consegue vencer o seu estado vegetativo.

Felizmente todos nós temos algo de Tótó, o que de certa forma nos torna mais felizes. Assim, não há que ter receio e soltar o Tótó que há dentro de nós.

P.S. Escrevi isto há uns tempos, mas como sou suficientemente Tótó para não escrever mais nada de novo, cá fica. :)