OK. Cheguei ao Dubai no Ramadão... Altura do ano em que os muçulmanos cumprem um jejum de sol a sol e, neste emirado, tentam fazer com que todos os outros o saibam. Não se pode comer em publico, beber, fumar, mascar pastilha elástica, cantar e, se forem as compras, são aconselhados a transportar os bens alimentícios num saco não transparente. Imagino o terrível ataque do jejuante esfomeado que, não se conseguindo controlar, devora alarvemente a comidinha recém comprada a nossa frente depois de ter surrupiado violentamente o saquinho de supermercado. Entretanto, no meio disto tudo põe-se biombos nos restaurantes dos hotéis a hora do almocito e abrem-se especialmente salas nas empresas aos fumadores e para as refeições. Tem-se o cuidado de tapar as janelas, não vá um qualquer polícia zeloso topar o tipo a fumar uma beata no 14º andar.
A População é na sua maioria Indiana, Filipina ou Paquistanesa, e é de salientar o esforço que esta gente faz para respeitar a tradição dos cerca de 10% de locais que aqui habitam. Mais, considerando que boa parte desta gente trabalha na construção civil e que durante o dia estão cerca de 45ºC, á sombra, é de salientar a não existência de acidentes de trabalho devido a não ingestão de líquidos durante o período do mesmo. Ah bom, a segurança acima de tudo! Por causa disso pára tudo as 14h as pessoas recolhem aos seus aposentos donde saem finalmente ao pôr-do-sol para se enfardarem nos vários restaurantes que abrem por essa hora. As lojas abrem também e oferecem promoções de Ramadão, do tipo “faca jejum no seu carro novo”, ou, “leve a sua família esfomeada a jantar no carro novo”. Há programação especial na televisão para distrair os jejuantes da fome com os últimos êxitos de Hollywood, numa lógica de que enquanto se vê a múmia não se da pela fomeca.
Estou talvez a ser mauzinho, mas quando considero que o Islão é uma religião que, como muitas outras, apela a tolerância não consigo deixar de ficar irritado com este tipo de coisas. Se as pessoas querem jejuar. Óptimo. Que o façam. Nada contra. Muito pelo contrario. Impor a vontade de cerca 10% da população sobre o restante e que me deixa um bocado mal disposto. Seja lá onde for. Mas também não é propriamente nada de novo.
Faço o meu apelo ao Sheikh Al Maktum que é um tipo moderno e como tal lê avidamente estas linhas, ou pede a alguém que as leia por ele, se esforce um bocadinho de forma a separar essas duas coisas distintas que são a religião e o estado. Simples e relativamente eficaz, embora não muito fácil, mas recomenda-se. Ah, e já agora com 45ºC á sombra sabia mesmo bem beber uma bojeca, de vez em quando, numa qualquer esplanada á beira-mar, em vez de ter de ir a um bar de hotel ou centro comercial. Tenho a certeza que o emirado, que considero um sítio até bastante agradável o seria muito mais. Para além disso marcava pontos de modernidade nos emirados e reinos todos vizinhos. “Ah, vocês têm GP de F1… Nós temos bojecas!”. E eu que acho que o Sheikh até tem vindo a desenvolver um bom trabalho… Seria a cereja no topo…
O Ramadão e uma época festiva, embora confesse que ainda não tenha muito bem dado com a festa, é uma época de reflexão, e de benevolência. Para alem disso dizem-me que e uma boa altura para quem trabalha aqui gozar ferias. E as ferias são sempre boas.
P.S. Afinal o GP de F1 é no Bahrein, ao contrário do que pensava, apercebi-me disso quando descobri que não dava F1 na televisão…demorei uns dias…
Não sei se existe a palavra “jesuante” mas agrada-me a sonoridade…
Os Imãs aqui não cantam grande coisa, deviam ir fazer um estagio á Turquia porque os tipos de lá são muito melhores… :)
Ramadan Mubarak.
domingo, 14 de setembro de 2008
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